Rede exige equilíbrio nas linguagens coloquial e corporativa

O conhecimento é como uma esfera, cujo aumento de volume coloca mais pontos de contato com o desconhecido e com mais interagentes. Hoje, a comunicação ganha um ar de virtualidade, ainda que mesclado com o real, transitando entre átomos e bytes, entre o palpável e o simbólico, o que traz ainda maiores desafios para os comunicadores. Este panorama foi um dos temas tratados na Conferência de Portais Corporativos da International Business Communications/IBC, integrante do Informa Group, realizada entre os dias 24 e 26 de março de 2009 no Hotel Pergamon em São Paulo/SP.

A análise é de Carlos Seabra, diretor de Tecnologia do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicas/IPSO, que destaca haver “uma imensidade de desafios na tarefa de produzir e gerir conhecimento”, acrescentando que o mundo da mobilidade, sobremaneira com os celulares, traz uma nova preocupação na adequação de formato e conteúdo. A gestão editorial é um processo que se mantém fundamental mesmo em tempos de descentralização da produção de conteúdo, porque do contrário se corre o risco de um empobrecimento dos discursos e reflexões, pelo tipo de participação que se vê nas redes sociais.

De todo modo, reconhece que nunca houve tantas pessoas como agentes da comunicação escrita, com diferentes tipos de linguagem, o que seria bastante positivo. Aliás, para ele aparecem aí inúmeros elementos inibidores da expressão, como a falta de domínio da gramática ou até do raciocínio lógico. E acresce: “vamos de uma extrema informalidade na linguagem coloquial, para um extremo formalismo na linguagem oficial corporativa. Temos que achar um equilíbrio”. E lembra que a qualidade dos processos, inclusive nas certificações ISO, é escrever o que se faz e fazer o que se escreve, mostrando a força da capacidade de comunicação que precisa ser desenvolvida para todos os níveis hierárquicos. Seabra pontua, somente, que a linha entre política editorial e censura é tênue e merece muita atenção.

Outro ponto no mundo dos portais que representa novas exigências aos profissionais é o monitoramento contínuo dos usos, e também a organização de seus arquivos e acessos por links. Ele sugere cuidado com o exagero nos hiperlinks, porque o resultado final pode ser a dispersão do leitor, e não a atribuição de poder de escolha de ordens de leitura. O exercício de realizar treinamentos para inserção de profissionais nas redes sociais, por meio da abertura de acesso nas empresas ao Orkut, a blogs pessoais e ao MSN, mesmo que tratando de temas não corporativos, é o melhor caminho na opinião do pesquisador. Esta pessoa cria familiaridade, identidade e apreço com os canais e depois fica muito mais suscetível a incorporar os meios para produção institucional. “As pessoas escrevem bem quando leem muito. Além disto, quando praticam bastante. Mas o letramento nem sempre produz bons comunicadores”, alerta para demonstrar a complexidade do tema.

INTRANET ­ Gisele Martins, coordenadora de Comunicação Interna da Ultragaz, falou da experiência com a intranet criada em 2006. Sua empresa tem 70 anos e é líder e pioneira na distribuição de gás LP no Brasil, sendo a sexta maior empresa da área no mundo. Tem quatro mil funcionários e, através de 4.200 revendas, comercializa por mês sete milhões de botijões. A área de comunicação interna é subordinada ao setor de Recursos Humanos e o canal faz parte de um mix mais amplo de instrumentos impressos e eletrônicos. Na origem, a intranet era vista como um portal de passagem para outros sites, com informação desalinhada e desatualizada, ferramenta de conteúdo limitada, dada a falta de cultura de acesso à rede. A renovação iniciou pelo estudo do perfil de público em nível hierárquico e faixa etária, transformando a plataforma numa fonte única para busca de informações consideradas confiáveis e eficientes, gestão de conhecimento e serviços integrados, integrando todas as unidades administrativas.

Por Rodrigo Cogo / São Paulo

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